Tipos de Marcha e o Papel do Treino de Marcha na Fisioterapia Neurológica
- Dra Rachel Guimaraes
- há 2 dias
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A forma como uma pessoa caminha revela muito mais do que imaginamos. A marcha é uma das expressões mais complexas do sistema nervoso, resultado da integração entre controle motor, equilíbrio, força, coordenação e percepção sensorial.Quando há uma lesão neurológica — como no AVC, Parkinson, esclerose múltipla ou ataxias cerebelares — essa coordenação se altera, dando origem a padrões característicos de marcha que orientam todo o processo de reabilitação.
Principais Tipos de Marcha em Condições Neurológicas
1. Marcha Parkinsoniana
Caracteriza-se por passos curtos e lentos, diminuição do balanço dos braços e dificuldade para iniciar ou parar o movimento.É comum observar o “freezing” (bloqueio súbito), que interfere diretamente na autonomia do paciente.👉 O foco da reabilitação é trabalhar amplitude de movimento, ritmo e estratégias de desbloqueio motor.
2. Marcha Hemiparética (ou em “foice”)
Típica após o Acidente Vascular Cerebral (AVC).O paciente tende a arrastar uma perna em semicírculo, com o braço do mesmo lado flexionado junto ao corpo.👉 O treino deve priorizar o controle de tronco, equilíbrio, dissociação de cinturas e simetria dos passos.
3. Marcha Atáxica
Relacionada a disfunções do cerebelo.Os passos são largos, irregulares e desequilibrados, como se o paciente estivesse “embriagado”.👉 O fisioterapeuta trabalha coordenação, estabilidade postural e feedback visual para melhora do controle motor fino.
4. Marcha Espástica
Observada em condições como paralisia cerebral ou lesões medulares.Há rigidez muscular e dificuldade para flexionar joelhos e tornozelos, o que faz o paciente andar com as pernas estendidas.👉 O treino deve buscar redução do tônus, mobilidade articular e padrões motores mais funcionais.
5. Marcha Cautelosa ou Senil
Comum no envelhecimento e em distúrbios vestibulares.Há base de apoio aumentada e passos curtos, como forma de compensar o medo de cair.👉 O trabalho foca em treino de equilíbrio, força e confiança durante a locomoção.
O Papel do Treino de Marcha na Reabilitação Neurológica
O treino de marcha é uma das estratégias mais importantes na fisioterapia neurológica.Ele visa restabelecer o padrão funcional de movimento, estimular plasticidade neural e aumentar a autonomia nas atividades de vida diária.
As abordagens podem incluir:
Treino em esteira com suporte parcial de peso;
Exercícios com pistas visuais ou auditivas (para Parkinson, por exemplo);
Plataformas de equilíbrio e realidade virtual;
Técnicas de neuromodulação não invasiva, como Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) ou Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC), que potencializam a reorganização cortical durante o treino motor.
Cada sessão deve ser individualizada, considerando o tipo de marcha, o estágio de recuperação e os objetivos funcionais do paciente.
Observar a marcha é como ler um mapa do sistema nervoso.Cada alteração indica um caminho diferente de atuação para o fisioterapeuta — e quanto mais cedo o tratamento é iniciado, maiores são as chances de recuperar o controle, o equilíbrio e a independência.
O treino de marcha vai muito além de reaprender a andar: é reensinar o cérebro a se mover.
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